FÉ

A matéria de capa da revista Galileu deste mês tem como título "Questão de fé". A reportagem apresenta estudos científicos que apontam as vantagens de se ter fé: melhora da memória pelo exercício do lobo frontal; portadores do vírus HIV que têm uma crença espiritual apresentam níveis maiores das células de imunidade CD4; o nível de interleucina-6 (proteína associada ao funcionamento do sistema imunológico) é maior em pessoas que mantêm hábitos religiosos; acreditar em Deus reduz o estresse; quem acredita em Deus é mais tranquilo e reage a erros com menos ansiedade; pessoas que frequentam igrejas vivem 2 a 3 anos a mais que aqueles que não declaram hábitos religiosos; etc. Embora inegáveis, esses fatos apontam para o fator utilitarista da fé. É bom tê-la para viver mais e melhor. Tanto é que a matéria afirma: "Católicos, judeus, hindus, espíritas, budistas, evangélicos, agnósticos... Não importa a religião - ou a falta de. Basta crer."

Em sua postagem "Vale a pena crer em qualquer coisa para ser curado?" o pastor, professor e blogueiro Douglas Reis afirma que se faz confusão "quando se passa a ideia de que crer é indispensável à saúde apenas por motivar ou oferecer conforto aos pacientes; a fé aí seria vislumbrada como mero paliativo, um emplastro sem valor intrínseco". E ele diz mais: "O papel holístico da fé tem que ver com sua objetividade filosófica, não com uma subjetividade mística. A verdadeira fé se baseia em proposições que sejam adequadas ao mundo real. Isso sim é uma crença saudável."

A matéria de Galileu e encerrada com as palavras de Leandro Karnal, historiador da Unicamp: "A fé não é uma abstração. É uma expressão muito concreta que produz coisas reais. Produz fatos econômicos, arquitetura e arte. Produz relações sociais, felicidade e infelicidade. É um fenômeno riquíssimo. Trabalhar com a fé é trabalhar com uma das questões mais complexas e importantes da história humana."

Mas será que fé é apenas isso, um "fenômeno riquíssimo"?

A Lição da Escola Sabatina (guia trimestral mundial de estudos bíblicos da Igreja Adventista do Sétimo Dia), no estudo desta semana, trata exatamente do tema "fé". Segundo o texto, "a fé não deve ser confundida com convicção racional. Em sentido bíblico, a fé não se baseia principalmente na razão (embora não seja irrazoável nem irracional); nem se baseia nas emoções (embora as emoções tenham seu papel). A fé é uma certeza profundamente enraizada que afeta todo o ser. É um princípio que governa a vida. É o meio pelo qual alcançamos as promessas de um Deus que não podemos ver, mas que sabemos existe e nos apoderamos delas. ... Ter fé é fazer o que sabemos que Deus nos pede que façamos, embora não sintamos o desejo de fazê-lo".

E a lição conclui sumarizando o tema da semana: "Fé é experiência. Está relacionada com a certeza e com a confiança. As Escrituras têm um papel importante para despertar, fortalecer e alimentar a fé. Mas a fé não é uma simples convicção; é um princípio que nos guia na vida diante de Deus e dos outros."

Teologicamente, fé nada tem que ver com uma espécie de pensamento positivo. Ela é um dom de Deus (Ef 2:8) e pode e deve ser exercitada. Cabe ao ser humano pedir a Deus com sinceridade que o ajude a ter essa fé salvadora (Mc 9:24).

Michelson Borges
http://www.outraleitura.com.br/web/artigo.php?artigo=88:Fe_utilitarista Acesso em: 05/08/2011